quinta-feira, 8 de abril de 2010

ATENÇÃO


A atenção é o meio pelo qual processamos ativamente uma quantidade limitada de informação a partir da enorme quantidade disponível através de nossos sentidos, de nossas memórias armazenadas e de nossos outros processos cognitivos. E inclui processos conscientes e inconscientes.

A consciência inclui o sentimento de percepção consciente e o conteúdo da consciência, parte do qual pode estar sob o foco da atenção.


Logo, a atenção e a consciência formam dois conjuntos sobrepostos.


A atenção consciente serve a três propósitos ao cumprir um papel causal na cognição:
• ajuda a monitorar a interação com o ambiente,
• ajuda a relacionar passado (memórias), presente (sensações) para que se tenha um sentido de continuidade da experiência, e
• ajuda a controlar e a planejar ações futuras.
Ao trabalhar com a atenção em laboratório dois conceitos devem ser considerados na apuração dos dados: a habituação e a adaptação.


A habituação está relacionada a acostumarmo-nos com um estímulo, de forma que, aos poucos, passemos a prestar cada vez menos atenção a ele. A contrapartida da habituação é a desabituação, na qual uma mudança em um estímulo conhecido leva-nos a começar a notá-lo outra vez. Ambos os processos ocorrem de modo automático, sem envolver o esforço consciente.


A habituação é um fenômeno de atenção que difere do fenômeno fisiológico da adaptação sensorial. A adaptação sensorial é uma diminuição da atenção a um estímulo que não seja objeto de controle consciente. Ela ocorre diretamente no órgão sensorial, e não no cérebro.


É possível observar a habituação acontecendo no nível psicológico ao medir o grau de excitação. A excitação é um grau de agitação fisiológica, é a capacidade de resposta a prontidão para a ação, em relação a uma condição inicial. A excitação costuma ser medida em termos de batimentos cardíacos, pressão sangüínea, padrões de eletroencefalograma (ECG) e outros sinais fisiológicos.


Quando um estímulo visual constante permanece no nosso campo visual por muito tempo, a atividade neural em resposta a esse estímulo diminui, da mesma forma que outras respostas fisiológicas.


Há três funções principais da atenção consciente a detecção de sinais, a atenção seletiva e a atenção dividida.
• a detecção de sinais é a identificação do surgimento de um estímulo específico,
• a atenção seletiva é o foco da atenção a alguns estímulos em detrimentos de outros estímulos,
• a atenção dividida é o direcionamento prudentemente dos recursos atentivos disponíveis para coordenar o desempenho em mais de uma tarefa de cada vez.


Posner (1995) identificou um sistema de atenção (rede de atenção) anterior no lobo frontal e um sistema de atenção posterior no lobo parietal. O sistema de atenção anterior é ativado cada vez mais durante tarefas que requerem consciência, sendo que também está envolvido na “atenção para a ação”. Quanto ao sistema de atenção posterior envolve o lobo parietal do córtex, uma porção do tálamo e algumas áreas do mesencéfalo relacionadas a movimentos dos olhos. Esse sistema tornar-se rigidamente ativado durante tarefas envolvendo atenção visual-espacial.


Uma forma alternativa de estudar a atenção no cérebro é tratar dos potenciais relacionados a eventos que indicam mudanças mínimas na atividade elétrica em resposta a vários estímulos. Desta forma, tanto as técnicas de PET como de ERP oferecem informações sobre a geografia (localização) da atividade cerebral e sobre a cronologia dos eventos no cérebro. A PET oferece maior resolução para localizações espaciais das funções cerebrais. Os ERP oferecem indicações muito mais sensíveis da cronologia das respostas. Desta forma, por meio de estudos com ERP, até mesmo respostas extremamente breves aos estímulos podem ser observadas.

Resumo extraído de
Robert J. Sternberg
em Psicologia Cognitiva – Atenção e consciência
Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 71-114

O MOVIMENTO SACÁDICO E A SUA RELAÇÃO COM O CEREBELO


A pesquisa dos movimentos sacádicos ou sacadas é parte da bateria de testes da eletro-oculografia.


Sacádicos representam os movimentos oculares mais rápidos e nos capacitam a redirecionar nossa linha de visão. Eles incluem alterações voluntárias e involuntárias da fixação, a fase rápida do nistagmo optocinético, a fase REM (rapid eye moviments) que ocorre durante o sono e a componente rápida do nistagmo pós-calórico. Estão entre os movimentos oculares melhor conhecidos e estudados, sendo que possuem propriedades dinâmicas facilmente mensuráveis. Constituem uma via de estudo para o controle motor, cognição e memória. Além disso, são comumente usados em conjunto com outras tecnologias como métodos funcionais de diagnóstico por imagem e estimulação magnética transcraniana. Sacádicos voluntários em primatas estão diretamente ligados à presença de uma fóvea, uma vez que as imagens são mais bem visualizadas se localizadas nela. Assim não há a necessidade de movimentarmos a cabeça para visualizarmos uma imagem, se esta estiver localizada na fóvea. Três são os parâmetros mais relevantes na avaliação dos movimentos sacádicos: velocidade de pico, latência e acurácia.
• A velocidade de pico é a máxima velocidade que os olhos podem alcançar durante um movimento sacádico.
• A anormalidade de latência é a diferença de tempo entre a apresentação do alvo luminoso e o início de um sacádico. Anormalidades na latência incluem latência prolongada, latência encurtada e diferenças significativas entre as latências dos olhos direito e esquerdo. Tais anormalidades são observadas na presença de doenças neurodegenerativas.
• Latência é definida como o tempo decorrido entre a apresentação do alvo luminoso na barra de testes e o início do movimento sacádico do olho para encontrá-lo.
• A acurácia (precisão) sacádica é determinada pela comparação da posição do olho do paciente em relação à posição do alvo luminoso. Se o movimento sacádico do olho for além da posição do ponto luminoso, tem-se um sacádico hipermétrico ou uma dismetria do tipo overshoot. Se o movimento sacádico for menor que a posição do alvo luminoso, tem-se um sacádico hipométrico ou uma dismetria do tipo undershoot . Distúrbios cerebelares e doenças degenerativas do sistema nervoso central podem, às vezes, ser reveladas por meio de testes sacádicos, apesar de que o exame clínico é um método mais eficiente para se fazer este diagnóstico.


O cerebelo apresenta importantes conexões com o tronco cerebral e estruturas talâmicas que possuem função na geração das sacadas. O cerebelo calibra a amplitude do sacádico (vermis dorsal e núcleo fastigial), sendo que eles parecem controlar o tamanho do pulso do sacádico. O flóculo e talvez o paraflóculo parecem ser responsáveis pela combinação entre estímulo do sacádico e seu pulso. O cerebelo parece ser importante para o controle da acurácia sacádica e para a correção de alterações posição-dependentes nas propriedades mecânicas dos músculos oculares e tecidos orbitais.
• Lesões do córtex cerebelar em macacos podem provocar alterações nos sacádicos horizontais espontâneos.
• Cerebelectomias parciais e totais em macacos produzem sacádicos de todas as amplitudes e direções, mas o déficit principal nestes animais era que o pulso sacádico não era mais apropriado à movimentação do alvo.
• Lesões reversíveis provocadas pela implantação de probes no núcleo fastigial (probe medial) e no núcleo dentado (probe lateral) (macacos Cebus) em que os probes laterais foram estimulados não apresentou alteração da acurácia dos sacádicos horizontais e verticais, mas o calor transmitido através do probe medial provocou dismetrias, cujas magnitudes eram dependentes da posição do olho e da direção do sacádico.
• Hipótese de que o núcleo fastigial caudal do cerebelo tem a função de auxiliar na aceleração de sacádicos contralaterais e de desacelerar os sacádicos ipsilaterais.
• Pequenas lesões no vermis oculomotor do córtex cerebelar quanto a habilidade de execução e adaptação dos movimentos sacádicos dos olhos levam a uma hipometria inicial grosseira e a uma permanente abolição da capacidade de adaptação rápida para sacádicos na direção horizontal.
• Sacádicos para alvos estáticos e migratórios mostram que a aceleração sacádica em resposta a alvos móveis pode ser controlada pelo colículo superior, e as mudanças de desaceleração recebem um fino controle do cerebelo.

Conceitos extraídos a partir do trabalho de
José Aloysio Augusto Taban de Campos Netto & Fernando Colafêmina
em Movimentos sacádicos em indivíduos com alterações cerebelares
Brazilian Journal of Otorhinolaryngology 76 (1) janeiro/fevereiro 2010. p. 51-58

LIVROS DA ÁREA DE NEUROCIÊNCIA LIDOS EM 2009/2010

* Psicologia da Percepção - R. H. DAY
* Os Sete Pecados da Memória - como a mente esquece e lembra - DANIEL L. SCHACTER
* Mentes Inquietas - TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade - ANA BEATRIZ BARBOSA SILVA

LIVROS DE LITERATURA LIDOS EM 2009/2010

* Memórias do Subsolo - FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

* Oráculos de Maio - ADÉLIA PRADO

* No Caminho de Swann - MARCEL PROUST

* Fantasma Sai de Cena - PHILIP ROTH

* Indignação - PHILIP ROTH

* Caim - SARAMAGO

* Recordações da Casa dos Mortos - FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

* O Seminarista - RUBEM FONSECA

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