quinta-feira, 27 de agosto de 2009

KORBINIAN BRODMANN


As áreas de Brodmann foram definidas pelo neurologista Korbinian Brodmann, em seu livro “Vergleichende Lokalisationslehre der Grosshirnrinde in ihren Prinzipien dargestellt auf Grund des Zellenbaues”, de 1909. Essas áreas constituem a base para a localização funcional no córtex cerebral.

Para a demarcação dessas áreas, Brodmann utilizou-se como critério a organização dos neurônios no córtex cerebral, em que eram visualizados por meio da técnica de coloração de Nissl.

As áreas de Brodmann tem sido discutidas, refinadas e renomeadas exaustivamente durante quase um século, e continuam a ser as mais conhecidas e citadas na citoarquitetura da organização do córtex humano. Portanto, essas áreas definidas por Brodmann, baseando-se simplesmente na organização neural, são ainda utilizadas para designar regiões corticais funcionais.

Como resultado, segundo aponta Machado (2000, p. 261), a existência de localizações funcionais e o seu estudo têm grande importância na compreensão do funcionamento do cérebro.

As áreas funcionais do córtex, de maneira bem esquemática, foram divididas em área de projeção e de associação. No caso das áreas de projeções “são as que recebem ou dão origem as fibras relacionadas diretamente com a sensibilidade e com a motricidade” (MACHADO, 2000. p. 263), e as restantes seriam as áreas de associações que, segundo o autor citado, estão relacionadas com as funções psíquicas complexas. Portanto, quando há lesões nas áreas de projeções, essas podem causar paralisias e alterações na sensibilidade, enquanto que, quando ocorrem lesões na área de associação a parte motora e sensitiva não é afetada, mas podem ocorrer alterações psíquicas.

Com a contribuição do neuropsicólogo russo Alexandre R. Luria que, segundo Machado (2000, p. 263), propôs uma divisão funcional do córtex baseada no seu grau de afinidade com a motricidade e com a sensibilidade, abriu-se caminho para entender melhor as conexões do funcionamento cerebral. Desta maneira, as áreas de projeções, ligadas à motricidade e à sensibilidade, passaram a ser consideradas por esse neuropsicólogo de áreas primárias, e as áreas de associações foram subdivididas em secundárias (unimodais) e terciárias (supramodais). Essa subdivisão deveu-se a dois motivos. O primeiro, por perceber que existiam funções, ainda que indiretamente, sensoriais e motoras nas áreas de associações, desta forma, passou a denominar estas áreas de secundárias ou unimodais. Segundo, que as áreas terciárias ou supramodais, não se ocupavam de nenhum processamento motor ou sensitivo, mas estavam envolvidas com atividades psíquicas superiores como a memória, os processos simbólicos e o pensamento abstrato.

Dado o exposto, conforme Gil (2007, p. 7), dependendo da região do cérebro a morfologia e a densidade celular das camadas variam, e foi esses critérios arquitetônicos que permitiram a Brodmann mapear as áreas corticais numeradas de 1 à 52. Essas áreas podem ser agrupadas em três tipos mais abrangentes: córtex agranular, com ausência da camada 4 e uma profusão de células piramidais (áreas 4 e 6), córtex hipergranular com uma camada granular desenvolvida e muitas células (áreas sensitivas e sensoriais) e córtex eulaminado, com um equilíbrio entre as seis camadas (áreas associativas).


GIL, Roger. Neuropsicologia. Tradução: Maria Alice Araripe de Sampaio Doria. 2º ed. Editora Livraria Santos: São Paulo. 2007.

MACHADO, Ângelo B. M. Neuroanatomia funcional. 2.º ed. Ed. Atheneu: São Paulo. 2000

terça-feira, 25 de agosto de 2009

CIÊNCIAS DO CÉREBRO: RESUMO DO CAPITULO – O ESPIRITO DENTRO DA MÁQUINA


As pessoas com transtorno fronteiriço de personalidade sofrem também de impulsividade, um dos sintomas da doença. Atualmente, há alguns indícios iniciais que ligam a impulsividade a um mau funcionamento na parte mais dianteira do cérebro (o lobo frontal), impedindo a ação das inibições.

A abordagem que consiste no mapeamento das funções cerebrais, ligando-as a regiões específicas do cérebro, forma a base da neurologia, o campo das especialidades médicas que trata das doenças do sistema nervoso. Há cem anos se descobriu muitas coisas sobre o seu funcionamento. Sabia-se, por exemplo, descrever detalhadamente os locais no cérebro que controlavam os movimentos dos membros do corpo e do rosto. Sabia-se também que esses locais estavam organizados no cérebro numa espécie de “mapa” que representa o corpo. Conheciam-se os circuitos nervosos que levavam dos olhos à região cerebral que decodifica o que vemos, e também as regiões no lado esquerdo do cérebro responsáveis pela fala e pela compreensão do que ouvimos e lemos.

Mas, quanto à parte das funções cerebrais que se costuma chamar de superiores – como o pensamento abstrato, a memória, os sentimentos, o comportamento social e os estados de espíritos –, os indícios se contradiziam quanto a sua localização, e até quarenta anos atrás os pesquisadores não tinham muitas esperanças de vir a localizá-las algum dia. Essas funções superiores, das quais tratam a psicologia e a psiquiatria, são as que nos interessam aqui, no caso específico a impulsividade. Pânico, depressão, distorções da imagem corporal e da auto-imagem, obsessões, impulsividade violenta, tudo isso deriva de problemas nas funções superiores do sistema nervoso central.

Atrás da expressão sistema nervoso central, encontram os seguintes componentes: o cérebro e a medula. Esta última, na verdade, é um grosso cabo de conexão dentro do qual existe um conjunto de circuitos nervosos que transportam estímulos sensórios do corpo para o cérebro, e instruções do cérebro para a atividade muscular do corpo. O cérebro é composto de dois hemisférios não simétricos em seu funcionamento. Numa generalização é possível dizer que o hemisfério esquerdo sabe ler e falar, enquanto o direito entende sentimentos e nuances não-verbais. O hemisfério esquerdo está geralmente alegre, e o direto, triste. Cada hemisfério se divide em quatro lobos (lobo frontal, lobo temporal, lobo parietal e lobo occipital), e cada um desses lobos tem funções especificas. De um modo geral, é possível dizer que o lobo occipital vê, o lobo temporal ouve, o lobo parietal dá coerência e coordena todas as informações sensoriais que chegam ao cérebro, e o lobo frontal é, aparentemente, parte do que torna o homem “humano” – é onde se localizam as capacidades de planejamento a longo prazo, da autoconsciência e da consciência social, do pensamento abstrato e do controle dos impulsos, além do controle de todos os músculos do corpo. Esses quatro lobos constituem, em conjunto, o córtex cerebral, cujos sulcos retorcidos lhe dão seu aspecto característico.

Sabe-se hoje, que a maioria dos distúrbios psicológicos está ligada a perturbações específicas no funcionamento do cérebro. Mas, ao contrário dos distúrbios que tratam os neurologistas, a maioria dos problemas enfrentados por psicólogos e psiquiatras não são provocados por “furos” ou outras lesões anatômicas. Ocorrem devido a ligeiras modificações no funcionamento das partes cerebrais.

A influência da destruição total de alguma parte do cérebro por doença ou acidente parece por vezes a que exerce uma perturbação no seu funcionamento.

A consideração social e o controle da impulsividade não são fenômenos que se processam inteiramente na parte dianteira e interna do lobo frontal. Essa região do cérebro é parte de um circuito do qual fazem parte outras áreas, e ela é a responsável pelo seu funcionamento. Uma lesão neste local quebra o circuito, e desse modo impede o autocontrole.

Mas onde passa a fronteira entre uma falha no funcionamento cerebral e uma falta de caráter? Não seriam ambas as coisas as duas faces de uma mesma moeda? Essas perguntas pertencem ao campo da neuropsicologia, que investiga as ligações entre as lesões cerebrais e os distúrbios psíquicos.

A neuropsicologia surgiu como uma obra de um único homem, o psicólogo russo Aleksander Romanovitch Luria.

Os pacientes de Luria sofriam de derrames cerebrais, de tumores ou de traumatismos cranianos graves. Todos esses fatores provocam danos localizados em algum ponto do cérebro. Com base nos métodos investigativos e neurológico clássicos, utilizados por ele, e seu contato com centenas e talvez milhares de pacientes, Luria formou uma imagem complexa das funções cerebrais e de seus vínculos com o psiquismo. O seu objetivo era vincular estruturas psicológicas a estruturas cerebrais. Em outras palavras, o modelo de Luria e Solms procura mapear a alma e suas regiões, conforme as conhecem os psicólogos, vinculando-as ao cérebro e suas partes segundo o conhecimento neurológico. Por essa abordagem geográfica é possível descrever no cérebro três partes, casa uma com suas características e suas funções: a área da recepção; a instintiva; e a área diretora.

A área da recepção processa as informações e as memoriza. É composta por todas as partes posteriores do córtex cerebral, e pela maior parte do sistema límbico, constituído pelo hipocampo, pelos núcleos da amígdala e por outros componentes localizados no interior do cérebro. Essas duas grandes partes recebem informações de duas fontes diversas: tudo aquilo que vem de fora – ou seja, tudo o que vemos, ouvimos e tocamos – chega à região posterior do córtex cerebral e lá é processado. É possível dizer, do mesmo modo como o córtex posterior capta o mundo externo a nossa volta, o sistema límbico é receptor do que se passa em nosso interior. Ao longo do desenvolvimento humano são criadas e aperfeiçoadas as ligações entre as várias partes que integram o sistema receptor. É desse modo que se formam as associações entre imagens, sons, cheiros e sensações, e também as associações entre as imagens de certos seres humanos e as sensações que esses nos provocam. E assim, aos poucos, a profusão de estímulos que nos atingem sem cessar começa a adquirir um sentido específico para cada um de nós.

Os dois hemisférios cerebrais diferem quanto às funções, principalmente naquelas áreas que se ligam a mais de um órgão dos sentidos (olhos, ouvidos) e integram informações provenientes de várias fontes sensórias. Os hemisférios não diferem apenas no aspecto funcional – são também regidos por leis diferentes. Uma grande área do hemisfério direito processa imagens e memórias do mundo como uma coleção de objetos inteiros. Todas as informações sobre cada objeto desses se aglomeram numa figura inteira e única do objeto, ao qual é atribuída, às vezes, também um significado emocional. Essas operações são realizadas no lado direito do cérebro, rápida e paralelamente.

No hemisfério esquerdo o mundo é captado não como uma série de objetos no espaço, mas como uma cadeia organizada de símbolos e palavras. As palavras são símbolos simples de objetos complexos, que fazem o pensamento por meio de palavras ser veloz e eficiente. Lesões nesse hemisfério podem provocar afasia, que consiste na perda da capacidade de falar ou de compreender falas ou textos escritos. O hemisfério direito não processa símbolos e sim objetos, e por esse motivo ele é mais intuitivo que o esquerdo.

A área instintiva do cérebro é a segunda das três partes, segundo Luria e Solms. É uma região muito pequena, mas suas influências têm longo alcance, chegando a todos os lugares no cérebro, no corpo e no psiquismo. Compõe-se de partes do tronco cerebral e do hipotálamo. Essa região é a responsável pelo nosso estado de espírito: vivacidade ou cansaço, fome e sede, desejo sexual ou saciedade, iniciativa e energia ou indiferença. Ou seja, nessa pequena região do cérebro residem os impulsos. É nela que se originam os instintos, os desejos e os impulsos que tão frequentemente nos dominam. Uma parte do processo de amadurecimento, na adolescência, consiste no domínio gradual e parcial sobre essa parte. O adulto, ao contrário do bebê, nem sempre faz o que tem vontade. Faz apenas o que é possível ou o que vale a pena ser feito, levando em conta o que há à sua volta e aquilo que é permitido ou proibido naquele momento.

A região diretora, a terceira região no modelo de Luria e Solms, é aquela que sofreu o impacto direto e localizado no cérebro de Phineas Gage (personagem clássico da literatura médica que sofreu um acidente em que teve a parte inferior dos lobos frontais perfurada por uma barra de ferro). Essa parte contém os dois lobos frontais inteiros, tanto o direito quanto o esquerdo. Sua função psíquica é coordenar, averiguar e controlar tudo o que fazemos. Diferente da região posterior do cérebro, que enxerga o mundo como um conjunto de objeto ou símbolos percebidos simultânea e paralelamente, a região anterior ou frontal vê o mundo como uma sucessão de acontecimentos na qual existe uma diferença entre o antes e o depois. Numa generalização aproximada, podemos dizer que a região cerebral posterior se orienta no espaço e que a região anterior se orienta no tempo. Como é sabido, Phineas Gage perdeu a capacidade de planejar o futuro de modo racional, e talvez tenha passado a ter dificuldades até mesmo de imaginá-lo. Sua capacidade de prever as conseqüências sociais de seus atos também ficou prejudicada. Essas dificuldades, aparentemente, estavam ligadas à lesão naquela área específica dos seus lobos frontais.

Além de tudo isso, uma das importantes funções dos lobos frontais é por rédeas à atividade dos demais componentes do cérebro, entre eles, a área instintiva onde residem os impulsos.

Nos últimos anos foram publicados, na literatura profissional, duas pesquisas que utilizaram a visualização funcional do cérebro para investigar a atividade cerebral de homens e mulheres com transtorno fronteiriço da personalidade, comparando-a com a atividade cerebral de pessoas “normais”. As duas pesquisas chegaram a conclusões parecidas: os que sofrem do transtorno fronteiriço da personalidade sofrem também de um déficit específico da atividade na parte dianteira central dos seus lobos frontais.

A maioria dos que sofrem desse distúrbio, é capaz de, em certos momentos, explodir com alguém. Mas sua impulsividade e sua violência, que talvez tenham origem no mau funcionamento de seus lobos frontais, são muito mais perigosas para ela mesma.

A pesquisa do psicólogo Adrian Rain, com a amostra de uns vinte assassinos, com características impulsivas, condenados pela justiça à pena de morte, e que foram submetidos a exames de visualização funcional e juntamente com um grupo controle, concluiu que quase todos os assassinos impulsivos apresentavam graves perturbações na atividade dos lobos frontais, exatamente na mesma região que tinha sido eliminada do cérebro de Phineas Gage.

Uma das características do transtorno fronteiriço de personalidade é entrada do paciente, rapidamente, numa situação de perda de controle quase total, e com a mesma velocidade sair dela e voltar a agir normalmente.

A psicoterapia quando bem sucedida, muda não só a alma e o comportamento, mas também o cérebro.

Nos últimos anos acumularam-se muitos indícios de que lesões localizadas na parte dianteira e média dos lobos frontais podem levar a comportamentos impulsivos. Nem todos os casos são tão dramáticos como o de Phineas Gage.

Quando o temperamento de uma pessoa muda depois de um acidente em que ocorreu uma leve pancada na cabeça, há duas possibilidades para entender o que aconteceu. Uma delas é que surgiu uma angústia pós-traumática em razão do acidente, pois ela pode aparecer depois de uma episódio em que há risco de vida, manifestado-se por meio de raiva e impulsividade. A outra possibilidade é a de que o acidente tenha provocado uma pequena lesão na parte dianteira dos lobos frontais. Isso pode acontecer quando, num acidente, a cabeça é projetada para a frente e bate em alguma coisa. Nem sempre é fácil distinguir entre essas duas possibilidades, e as vezes ocorrem ambas. O fato de a tomografia não indicar lesão cerebral não exclui a possibilidade de algum dano ligeiro, a ponto de não ser detectado pelo exame mas que, ainda assim, influencie o comportamento.

Logo, fazendo uma retrospectiva na evolução das neurociências podemos afirmar que temos uma dívida de gratidão para com Phineas Gage e John Harlow (o médico que o atendeu e relatou o caso), que nos ajudaram a entender como um dos aspectos da nossa alma está ligado ao cérebro.


YORAM YOVELL
em O inimigo no meu quarto e outras histórias da psicanálise
Capitulo: O espírito dentro da máquina (anatomia da alma) p. 357-380
Rio de Janeiro: Record, 2008

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

DIFERENÇA NO CÉREBRO FAZ COM QUE ESQUIZOFRÊNICOS OUÇAM VOZES

Uma diferença anatômica no cérebro, que pode surgir durante o terceiro trimestre da gravidez, explicaria por que certos pacientes esquizofrênicos ouvem vozes em sua cabeça e outras vozes provenientes do exterior.

A esquizofrenia afeta um 1% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). As alucinações auditivas verbais, ou seja, a percepção de vozes, é um dos sintomas frequentes, já que 70% dos pacientes esquizofrênicos padecem disso, segundo um trabalho conjunto de um laboratório da Comissão de Energia Atômica francesa e a Assistência Pública dos Hospitais de Paris.

Depois de demonstrar, há um ano, este fenômeno vinculado às anomalias anatômicas no conjunto das regiões do cérebro envolvidas na linguagem, uma equipe de pesquisadores do laboratório CEA-Inserm e de psiquiatras hospitalares quis compreender por que a percepção de vozes difere de um caso para outro, explicou Arnaud Cachia, do Serviço Hospitalar Frederic Joliot, associado ao CEA-Inserm, em Orsay.

Existem dois tipos de alucinações auditivas na esquizofrenia: o tipo em que os pacientes ouvem vozes em sua cabeça e o tipo em que essas vozes são exteriores.

Na comparação feita graças a imagens de ressonância magnética (IRM), a anatomia do cérebro das pessoas que não sofrem dessa doença e as dos dois grupos de pacientes esquizofrênicos (12 que ouvem apenas vozes externas e 15 que ouvem as internas), os pesquisadores evidenciaram uma diferença na região envolvida na localização espacial do som (córtex temporoparietal do hemisfério direito do cérebro).

Os cientistas descobriram uma anomalia que diz respeito à união entre os dois surcos do córtex: o sulco temporal superior e o sulco angular. Em comparação com indivíduos saudáveis, a união está deslocada para frente do cérebro dos pacientes que ouvem vozes externas e, ao contrário, na parte de trás do cérebro para os que ouvem vozes internas a sua cabeça, segundo o estudo que foi publicado pela revista "Schizophrenia Bulletin".

Esta diferença pode, segundo os autores do estudo, indicar a existência de "desvios na maturação do cérebro" durante o terceiro trimestre da gravidez, quando estes dois surcos aparecem e depois se conectam.

"Se um fenômeno tão subjetivo e íntimo como a localização das vozes se traduz por uma diferença na anatomia do cérebro, esse é um argumento adicional para deixar de estigmatizar os pacientes afetados por esta doença que ainda é pouco conhecida".


em Uol Ciência e Saúde
fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/afp/2009/08/20/ult4430u765.jhtm
Publicado em 20/08/2009 - 13h05
acessado em 20/08/09

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

PSICOLOGIA FISIÓLOGICA - RESUMO DA INTRODUÇÃO


A psicologia fisiológica pode ser definida como o estudo das bases fisiológicas do comportamento humano e animal. Hoje, é primordialmente uma ciência fundamental ou pura, que procura compreender os eventos fisiológicos subjacentes ao comportamento.

Os eventos somáticos ocorrem em dois sistemas gerais: o mecanismo da resposta e o meio interno. O mecanismo da resposta inclui os órgãos dos sentidos, os nervos, o sistema nervoso e os diversos músculos e glândulas que são utilizados quando um organismo emite uma resposta, O meio interno, por outro lado, é um complexo de substâncias – substâncias alimentícias, secreções de glândulas, produtos metabólicos das funções somáticas – que circulam no sangue e na linfa e constituem um meio essencialmente químico para o sistema nervoso e para outros órgãos do corpo.

O que se diz do mecanismo da resposta é, em parte, anatômico e, em parte fisiológico. A fim de compreender a função, deve-se compreender primeiramente as estruturas em que ela ocorre. Por isso, a fisiologia e a anatomia andam de mãos dadas.

Os fenômenos sensoriais, no livro, foram divididos em quatro classes principais: intensidade, qualidade, espaço e tempo. Conhece-se relativamente pouco sobre a percepção de tempo, pelo menos do ponto de vista da fisiologia e, por isso, a ênfase foi dada para os outros três aspectos dos fenômenos sensoriais.

Os atributo sensorial de intensidade são, por exemplo, uma luz se apresenta forte ou fraca; um som, alto ou baixo, ou uma dor que pode ser fraca ou intensa. A experiência de vários estímulos tem também uma qualidade. A luz pode ser verde ou vermelha, ouvirmos sons agudos ou graves, e sentirmos uma alfinetada no braço como uma dor ou, simplesmente, uma pressão. Estas são todas diferenças qualitativas, Em terceiro lugar, os objetos apresentam aspectos espaciais. Os objetos visuais, por exemplo, têm forma, tamanho, distância e localização, todos aspectos espaciais. Mesmo os sons parecem grandes ou pequenos, próximos ou afastados; e a maioria dos estímulos que são detectados pelos sentidos cutâneos tem certo tamanho ou forma. Em cada um destes casos nos permitem perceber os atributos de uma maneira particular.

O estudo das funções motoras efetuado pelos fisiologistas e psicólogos trata de atividades como a postura, o equilíbrio, os reflexos, a coordenação e a execução dos movimentos. As bases fisiológicas destas atividades são, em geral, bem compreendidas.

Um aspecto interessante apontado no livro é em relação a emoção. Segundo o autor a emoção envolve atividades motoras da musculatura esquelética e dos efetores autonômicos, como o coração, os vasos sanguíneos e as glândulas.

O autor também aponta que a atenção é muitas vezes associada a percepção; mas para ele, o que se conhece dela, do ponto de vista fisiológico, está muito mais próximo do sono e da atividade.

Os mecanismos fisiológicos da fome e da sede, do comportamento sexual e do comportamento instintivo não são apenas respostas ao estímulo, mas são “provocados” por alguma premência ou ímpeto existente dentro do organismo.

No passado, muitos psicólogos e fisiologistas pensavam que os impulsos eram estímulos internos. Às vezes, os impulsos começam no meio interno e este meio, por sua vez, afeta órgãos do corpo. Podem excitar receptores como os do estômago, do coração, dos vasos sanguíneos, e estes podem eliciar experiências e respostas. Ou o meio interno pode excitar diretamente, ou senão, sensibilizar o sistema nervoso de modo que o comportamento motivado possa ser emitido ou eliciado pelos estímulos que de outra forma não teriam efeito sobre o organismo. Há muitos fatores fisiológicos em ação na motivação.

Em relação a aprendizagem e a memória depara-se com dois problemas intimamente relacionados. Um deles é o da localização da função. Estarão os diferentes tipos de aprendizagem e memória localizados em áreas particulares do sistema nervoso? O autor afirma que até certo ponto sim, mas não se pode identificar esse local. O segundo problema pode ser chamado de recuperação da função. Está envolvido não somente nas funções motoras, mas também na aprendizagem. Quando uma pessoa fica paralítica, por exemplo, por causa de um derrame (devido ao rompimento dum vaso sanguíneo do cérebro), ela, geralmente, melhora com o decorrer do tempo, de modo que, meses depois do trauma, apresenta uma considerável recuperação. Da mesma forma, os organismos, às vezes, esquecem certas lembranças e hábitos depois de uma lesão do cérebro, mas geralmente recobrem hábitos ou podem reaprendê-los se o ferimento não foi muito grave.

Também não pode deixar de abordar que falar sobre os eventos fisiológicos subjacentes ao comportamento é tratar sobre o problema das relações entre mente-corpo. Os fundadores das religiões, os filósofos e quase todos os intelectuais do passado tiveram algo a dizer a respeito disso. Algumas de suas crenças eram bem fundadas; outras, não. Por exemplo, a noção de que os doentes mentais eram “possessos do demônio”, de que o cérebro era uma maquina de refrigerar sangue, ou de que a alma está localizada na glândula pineal, foram idéias cultivadas outrora, mas que não resistiram ao avanço das ciências. O problema mente-corpo, contudo, foi sendo levado para o campo científico e tirado do domínio da filosofia. Há afirmações sustentadas constantemente por filósofos ou incluídas em dogmas religiosos, a respeito das quais a ciência nada tem a dizer. A ciência não tem nada a dizer sobre a existência ou não da alma. Assim mesmo, a ciência pode compreender como certos aspectos da vida mental são manifestações de processos fisiológicos subjacentes.

Outra forma possível de tratar o problema mente-corpo é o da experiência clínica com doentes. Diante disso, os médicos fizeram suas proposições que podem ser classificadas nos casos em que os eventos mentais causam um distúrbio somático. De onde saiu a psicossomática. Um ramo da medicina clínica que não é uma ciência básica. Outro enfoque clínico do problema mente-corpo é como os distúrbios somáticos afetam as funções mentais e o comportamento? As lesões cerebrais e distúrbios nas glândulas são as duas principais áreas em que se pode observar essa relação. Os neurologistas clínicos tratam das lesões do cérebro, e os especialistas em medicina interna voltam-se para as desordens de natureza glandular.

Entretanto, informações oriundas da experiência clínica apresentam suas limitações. Em primeiro lugar, o clínico nem sempre tem certeza do que ocorre com o seu paciente. Ele pode pensar que o paciente tem um tumor cerebral quando, na realidade, tem uma infecção; ou que o tumor é pequeno quando, realmente, é grande. Posto que nem sempre é possível ter certeza daquilo que, nas funções somáticas, estaria provocando uma diferença no comportamento. Em segundo lugar, não se pode em geral empregar aquilo que o cientista experimental denomina de “controles”, isto é, observar o comportamento do paciente quando ainda normal, e assim nem sempre se pode determinar com certeza se a doença física é a causa do que parece ser um distúrbio comportamental. Em terceiro lugar, não é possível aprender aquilo que se quer saber exatamente quando se quer. As pessoas adoecem quando a natureza decide e, muitas vezes não tem aquele tipo de doença quando se poderia fazer dele um bom uso para responder a questões cientificas. Por estas e semelhantes razões, o material clínico não presta grande auxílio à compreensão dos mecanismos fisiológicos do comportamento.

No método experimental os pesquisadores descobrem porque experimentam. Podem estabelecer exatamente as condições que querem para conduzir os testes e descobrir o que existe atrás do “se”. Os experimentos no campo da psicologia fisiológica não são tão claros e diretos como nas ciências naturais. Porém, são experimentos e respondem às questões colocadas e, por meio deles, realizam-se progressos constantes.

Uma outra desvantagem da psicologia fisiológica, mais do que de qualquer outro ramo da psicologia, é o fato de os experimentos não poderem, em geral, ser feitos com pessoas. Não é recomendável empregar nelas drogas e hormônios, e não é possível remover à vontade as diversas glândulas ou porções do sistema nervoso. Os pesquisadores devem, portanto, arranjar-se da melhor maneira possível com animais e não com seres humanos.

A ciência experimental é um processo em que o “bom” cientista se abandona e a uma mistura equilibrada de experimentos e hipóteses. No final, os experimentos é que são importantes e os fatos é que são verdadeiros e as hipóteses são apenas meios para conseguir um fim.

CLIFFORD T. MORGAN
em Psicologia Fisiológica
Coleção ciências do comportamento
Editora da Universidade de São Paulo/EPU.
São Paulo. 1973. p. 1-10

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

AS NEUROCIÊNCIAS COGNITIVAS - BREVE RESUMO DO CAPÍTULO I


O livro de Nicole Fiori, As Neurociências Cognitivas, faz a abordagem das funções mentais superiores (cognitivas) do ponto de vista do funcionamento do cérebro.

Segundo Fiori (2008), as neurociências se relacionam com a ciência dos neurônios, do sistema nervoso. Ela divide as neurociências em três estágios, elencados por ordem de complexidade: primeiro, o estágio mais elementar do funcionamento do cérebro é o das moléculas que permitem aos neurônios comunicar-se entre si; fala-se então de neurobiologia molecular ou neurociências moleculares. Segundo, o estágio da célula, no caso específico do cérebro, isso nos remete ao neurônio, mas também as células gliais; trata-se neste caso da neurobiologia ou de neurociências celulares. E por último o estágio permeado pela integração. Neste caso, os neurônios são organizados em redes complexas que formam sistemas integrados como, por exemplo, o sistema visual; o termo relacionado é o de neurociências integradas (neurociências integrativas)

Desta forma, as neurociências cognitivas estudam os mecanismos dos sistemas neurais mais complexos associados das funções mentais superiores (linguagem, memória, atenção... mas também consciência, representações mentais...).

Pode-se então questionar acerca do que diferencia as neurociências cognitivas da neuropsicologia. Bom, a neuropsicologia relaciona-se ao estudo das funções mentais superiores em conjunto com as estruturas cerebrais, o seu objeto de estudo é o paciente cérebro-lesado. Enquanto, as neurociências cognitivas utilizam naturalmente os dados coletados em animais e, no homem, os dados obtidos pela aplicação dos métodos de imageria cerebral (sem negligenciar os métodos derivados do estudo de pacientes cérebros-lesados)

Outro termo similar às neurociências cognitivas é a psicofisiologia, que etimologicamente é o estudo das bases fisiológicas do psiquismo. No entanto, ela trata do comportamento animal em seu ambiente – o homem sendo visto como um animal particular.

Com relação aos métodos utilizados pelas neurociências, eles vão dos ensaios in vitro praticados em neurobiologia celular ou molecular até os de imageria cerebral praticado em neurociências cognitivas. Entre esses dois extremos, encontra-se a estimulação ou a listagem [levantamento] da atividade elétrica de alguns neurônios de uma estrutura cerebral através de microeletrodos implantados no cérebro do animal, muito utilizado pelos neurofisiologistas. Há ainda a autópsia post mortem dos neuroanatomistas.

A psicologia elabora, com os métodos experimentais que lhe são próprios, os modelos de funcionamento cognitivo que geralmente são a base das pesquisas em neurociências cognitivas. O estudo do funcionamento cerebral permite então confirmar, inferir, enriquecer esses modelos.

Entretanto, mesmo que as neurociências (e outras) tenham se dado por tarefa desvendar as funções mentais e tentem determinar seu suporte material, o mistério da formação do pensamento no homem esta longe de ser elucidado, sendo essa a razão pela qual alguns pensadores continuam a conceber o pensamento em termos imateriais. Mas, recente introdução de conceitos, com a cognição, a psicologia cognitiva, as neurociências cognitivas, marca uma nova abordagem do pensamento em conjunto com suas bases cerebrais.

Além de que o surgimento de métodos de imageria cerebral constitui uma verdadeira revolução para o conhecimento em matéria de anatomia do cérebro durante a realização de tarefas cognitivas. A complementariedade dos dados e modelos da psicologia cognitiva e dos dados fornecidos pelo método de imageria cerebral funcional permitirá, sem nenhuma dúvida, o avanço a passos largos nos próximos anos.

Um exemplo é o estudo da esquizofrenia, que atualmente é objeto de inúmeros estudos em imageria cerebral que mostram uma disfunção do lobo frontal traduzida pela menor atividade frontal às custas de uma hiperatividade temporal e que sugere uma falha de conexões entre diversas regiões corticais e subcorticais.


NICOLE FIORI
em As neurociências Cognitivas
Capitulo: As neurociências cognitivas
Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2008. p. 11-20

sábado, 15 de agosto de 2009

CONCEPÇÕES NEUROCIÊNTIFICAS NA LITERATURA


"O homem é um composto de moléculas e corpos químicos; quem os souber reunir tem alcançado tudo".


Machado de Assis
em Migalhas de Machado de Assis
Organização e seleção de Miguel Matos.
São Paulo, 2008, fragmento: 638

LIVROS DA ÁREA DE NEUROCIÊNCIA LIDOS EM 2009/2010

* Psicologia da Percepção - R. H. DAY
* Os Sete Pecados da Memória - como a mente esquece e lembra - DANIEL L. SCHACTER
* Mentes Inquietas - TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade - ANA BEATRIZ BARBOSA SILVA

LIVROS DE LITERATURA LIDOS EM 2009/2010

* Memórias do Subsolo - FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

* Oráculos de Maio - ADÉLIA PRADO

* No Caminho de Swann - MARCEL PROUST

* Fantasma Sai de Cena - PHILIP ROTH

* Indignação - PHILIP ROTH

* Caim - SARAMAGO

* Recordações da Casa dos Mortos - FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

* O Seminarista - RUBEM FONSECA

CONTADOR