quarta-feira, 19 de agosto de 2009

PSICOLOGIA FISIÓLOGICA - RESUMO DA INTRODUÇÃO


A psicologia fisiológica pode ser definida como o estudo das bases fisiológicas do comportamento humano e animal. Hoje, é primordialmente uma ciência fundamental ou pura, que procura compreender os eventos fisiológicos subjacentes ao comportamento.

Os eventos somáticos ocorrem em dois sistemas gerais: o mecanismo da resposta e o meio interno. O mecanismo da resposta inclui os órgãos dos sentidos, os nervos, o sistema nervoso e os diversos músculos e glândulas que são utilizados quando um organismo emite uma resposta, O meio interno, por outro lado, é um complexo de substâncias – substâncias alimentícias, secreções de glândulas, produtos metabólicos das funções somáticas – que circulam no sangue e na linfa e constituem um meio essencialmente químico para o sistema nervoso e para outros órgãos do corpo.

O que se diz do mecanismo da resposta é, em parte, anatômico e, em parte fisiológico. A fim de compreender a função, deve-se compreender primeiramente as estruturas em que ela ocorre. Por isso, a fisiologia e a anatomia andam de mãos dadas.

Os fenômenos sensoriais, no livro, foram divididos em quatro classes principais: intensidade, qualidade, espaço e tempo. Conhece-se relativamente pouco sobre a percepção de tempo, pelo menos do ponto de vista da fisiologia e, por isso, a ênfase foi dada para os outros três aspectos dos fenômenos sensoriais.

Os atributo sensorial de intensidade são, por exemplo, uma luz se apresenta forte ou fraca; um som, alto ou baixo, ou uma dor que pode ser fraca ou intensa. A experiência de vários estímulos tem também uma qualidade. A luz pode ser verde ou vermelha, ouvirmos sons agudos ou graves, e sentirmos uma alfinetada no braço como uma dor ou, simplesmente, uma pressão. Estas são todas diferenças qualitativas, Em terceiro lugar, os objetos apresentam aspectos espaciais. Os objetos visuais, por exemplo, têm forma, tamanho, distância e localização, todos aspectos espaciais. Mesmo os sons parecem grandes ou pequenos, próximos ou afastados; e a maioria dos estímulos que são detectados pelos sentidos cutâneos tem certo tamanho ou forma. Em cada um destes casos nos permitem perceber os atributos de uma maneira particular.

O estudo das funções motoras efetuado pelos fisiologistas e psicólogos trata de atividades como a postura, o equilíbrio, os reflexos, a coordenação e a execução dos movimentos. As bases fisiológicas destas atividades são, em geral, bem compreendidas.

Um aspecto interessante apontado no livro é em relação a emoção. Segundo o autor a emoção envolve atividades motoras da musculatura esquelética e dos efetores autonômicos, como o coração, os vasos sanguíneos e as glândulas.

O autor também aponta que a atenção é muitas vezes associada a percepção; mas para ele, o que se conhece dela, do ponto de vista fisiológico, está muito mais próximo do sono e da atividade.

Os mecanismos fisiológicos da fome e da sede, do comportamento sexual e do comportamento instintivo não são apenas respostas ao estímulo, mas são “provocados” por alguma premência ou ímpeto existente dentro do organismo.

No passado, muitos psicólogos e fisiologistas pensavam que os impulsos eram estímulos internos. Às vezes, os impulsos começam no meio interno e este meio, por sua vez, afeta órgãos do corpo. Podem excitar receptores como os do estômago, do coração, dos vasos sanguíneos, e estes podem eliciar experiências e respostas. Ou o meio interno pode excitar diretamente, ou senão, sensibilizar o sistema nervoso de modo que o comportamento motivado possa ser emitido ou eliciado pelos estímulos que de outra forma não teriam efeito sobre o organismo. Há muitos fatores fisiológicos em ação na motivação.

Em relação a aprendizagem e a memória depara-se com dois problemas intimamente relacionados. Um deles é o da localização da função. Estarão os diferentes tipos de aprendizagem e memória localizados em áreas particulares do sistema nervoso? O autor afirma que até certo ponto sim, mas não se pode identificar esse local. O segundo problema pode ser chamado de recuperação da função. Está envolvido não somente nas funções motoras, mas também na aprendizagem. Quando uma pessoa fica paralítica, por exemplo, por causa de um derrame (devido ao rompimento dum vaso sanguíneo do cérebro), ela, geralmente, melhora com o decorrer do tempo, de modo que, meses depois do trauma, apresenta uma considerável recuperação. Da mesma forma, os organismos, às vezes, esquecem certas lembranças e hábitos depois de uma lesão do cérebro, mas geralmente recobrem hábitos ou podem reaprendê-los se o ferimento não foi muito grave.

Também não pode deixar de abordar que falar sobre os eventos fisiológicos subjacentes ao comportamento é tratar sobre o problema das relações entre mente-corpo. Os fundadores das religiões, os filósofos e quase todos os intelectuais do passado tiveram algo a dizer a respeito disso. Algumas de suas crenças eram bem fundadas; outras, não. Por exemplo, a noção de que os doentes mentais eram “possessos do demônio”, de que o cérebro era uma maquina de refrigerar sangue, ou de que a alma está localizada na glândula pineal, foram idéias cultivadas outrora, mas que não resistiram ao avanço das ciências. O problema mente-corpo, contudo, foi sendo levado para o campo científico e tirado do domínio da filosofia. Há afirmações sustentadas constantemente por filósofos ou incluídas em dogmas religiosos, a respeito das quais a ciência nada tem a dizer. A ciência não tem nada a dizer sobre a existência ou não da alma. Assim mesmo, a ciência pode compreender como certos aspectos da vida mental são manifestações de processos fisiológicos subjacentes.

Outra forma possível de tratar o problema mente-corpo é o da experiência clínica com doentes. Diante disso, os médicos fizeram suas proposições que podem ser classificadas nos casos em que os eventos mentais causam um distúrbio somático. De onde saiu a psicossomática. Um ramo da medicina clínica que não é uma ciência básica. Outro enfoque clínico do problema mente-corpo é como os distúrbios somáticos afetam as funções mentais e o comportamento? As lesões cerebrais e distúrbios nas glândulas são as duas principais áreas em que se pode observar essa relação. Os neurologistas clínicos tratam das lesões do cérebro, e os especialistas em medicina interna voltam-se para as desordens de natureza glandular.

Entretanto, informações oriundas da experiência clínica apresentam suas limitações. Em primeiro lugar, o clínico nem sempre tem certeza do que ocorre com o seu paciente. Ele pode pensar que o paciente tem um tumor cerebral quando, na realidade, tem uma infecção; ou que o tumor é pequeno quando, realmente, é grande. Posto que nem sempre é possível ter certeza daquilo que, nas funções somáticas, estaria provocando uma diferença no comportamento. Em segundo lugar, não se pode em geral empregar aquilo que o cientista experimental denomina de “controles”, isto é, observar o comportamento do paciente quando ainda normal, e assim nem sempre se pode determinar com certeza se a doença física é a causa do que parece ser um distúrbio comportamental. Em terceiro lugar, não é possível aprender aquilo que se quer saber exatamente quando se quer. As pessoas adoecem quando a natureza decide e, muitas vezes não tem aquele tipo de doença quando se poderia fazer dele um bom uso para responder a questões cientificas. Por estas e semelhantes razões, o material clínico não presta grande auxílio à compreensão dos mecanismos fisiológicos do comportamento.

No método experimental os pesquisadores descobrem porque experimentam. Podem estabelecer exatamente as condições que querem para conduzir os testes e descobrir o que existe atrás do “se”. Os experimentos no campo da psicologia fisiológica não são tão claros e diretos como nas ciências naturais. Porém, são experimentos e respondem às questões colocadas e, por meio deles, realizam-se progressos constantes.

Uma outra desvantagem da psicologia fisiológica, mais do que de qualquer outro ramo da psicologia, é o fato de os experimentos não poderem, em geral, ser feitos com pessoas. Não é recomendável empregar nelas drogas e hormônios, e não é possível remover à vontade as diversas glândulas ou porções do sistema nervoso. Os pesquisadores devem, portanto, arranjar-se da melhor maneira possível com animais e não com seres humanos.

A ciência experimental é um processo em que o “bom” cientista se abandona e a uma mistura equilibrada de experimentos e hipóteses. No final, os experimentos é que são importantes e os fatos é que são verdadeiros e as hipóteses são apenas meios para conseguir um fim.

CLIFFORD T. MORGAN
em Psicologia Fisiológica
Coleção ciências do comportamento
Editora da Universidade de São Paulo/EPU.
São Paulo. 1973. p. 1-10

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